Coluna Tecnologia

Dos laboratórios para sala de estar: uma rápida viagem pela história dos videogames

Gráficos ultrarrealistas em resoluções surpreendentes; controles de movimento e periféricos high tech; verdadeiras centrais de entretenimento que cabem no bolso ou escancaram incríveis imagens na tela da televisão da sua sala. Os jogos eletrônicos atingiram um patamar tecnológico e de inovação sem precedentes. Mas, assim como qualquer outra coisa na vida, este tipo de entretenimento eletrônico não surgiu do absoluto nada. A bem da verdade, a história destes, desde seus primórdios, lá na não tão longínqua década de 1950, é recheada de curiosidades e desfechos, no mínimo, interessantes. E como o hoje só existe por conta do ontem, convido você para embarcar em uma rápida (com o melhor resumo possível) e deliciosa viagem pela história dos videogames. Todos a bordo! 

Foto: Google imagens / Google imagens

Motivações bélicas

O primeiro jogo eletrônico da história foi criado em 1958, em um laboratório norte-americano de pesquisas nucleares, por William Higinbotham, um dos físicos responsáveis por criar a bomba atômica.

Popularmente conhecido como Tennis for Two - mas batizado como Tennis Programing -, o jogo, produzido em três semanas, tinha como propósito fazer das costumeiras visitas anuais ao laboratório algo mais prazeroso e chamativo para o público, que eram incentivados pelo governo norte-americano a irem a estes locais para que pudessem apreciar o poderio militar e tecnológico do país, que, assim como o resto do mundo, vivenciava tempos de Guerra Fria. 

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Tennis for Two era programado por meio de um computador analógico, com a ajuda de um osciloscópio (um aparelho utilizado por profissionais da área da eletrônica para medição de sinais elétricos), onde era operado a partir de uma caixa que possuía um botão giratório, conhecido como dial, e que dispunha de outro botão para pressionar. Por ser um jogo de tênis (onde uma bola era rebatida da esquerda para a direita, e vice-versa, cruzando uma rede que estaticamente permanecia no meio do cenário escuro), a determinação do ângulo da bola era feita via o botão giratório, e o outro botão servia como comando de ação, neste caso, como uma "raquete" (que não existia, digitalmente falando).

Da atividade lúdica gerida por Higinbotham três anos se passaram, tempo suficiente para que se pudesse perceber um forte salto nos desenvolvimentos tecnológicos. Se antes um computador ocupava uma sala inteira, agora seu tamanho e largura se assemelhavam ao de um automóvel. No entanto, possuir um aparelho desse porte, em 1961, era um luxo de poucos, como por exemplo o de alguns pesquisadores, membros do clube de informatas da Massachusetts Insitute of Technology (MIT), que haviam recebido o melhor modelo de um PC disponível naquela época: o PDP-1.

Steve Russell era um dos poucos que podia usufruir deste equipamento, e com a ajuda de outros quatro amigos pesquisadores, visava se utilizar da tecnologia disponível para elaborar um game digital. Após seis meses de trabalho, Russel desenvolveu o primeiro jogo eletrônico com temática espacial da história. Tratava-se de Spacewar, game no qual se controlava uma nave, com o objetivo de eliminar outras embarcações espaciais a partir de pequenos projeteis lançados pelo jogador.

Spacewar não teve um peso marcante no percurso dos jogos eletrônicos apenas por ser um dos pioneiros do gênero, mas também porque seu desenvolvimento acabou por culminar na criação do primeiro joystick focado em games da história - apesar de ser o controlador responsável pela ação de Tennis for Two, o osciloscópio não é considerado um joystick, o periférico apenas foi adaptado para tal uso, não sendo esta sua função primária.

A ascensão

Higinbotham e Russel podem ter sido os responsáveis por desenvolverem os primeiros jogos eletrônicos da história, mas suas criações ficariam restritas a laboratórios. Ambos jamais patentearam suas criações, pois acreditavam que as mesmas não seriam viáveis comercialmente, mas cinco anos depois, Ralph Baer, conhecido posteriormente como o pai dos videogames, deu o pontapé inicial para a massificação deste mercado.

Baer era um judeu alemão que fugiu para os Estados Unidos pouco antes do início do holocausto em sua terra natal, e que acabou servindo no exército americano durante a Segunda Guerra Mundial. Foi neste ínterim bélico que o engenheiro eletricista - especialista em televisores - passaria a ocupar importante papel na história dos jogos eletrônicos. A Sanders Associate era uma prestadora de serviços para o exército norte-americano, e havia contratado Baer para criar algo que transcendesse a visão unilateral de um televisor apenas como aparelho reprodutor de canais, uma "TV revolucionária". Foi a partir desta solicitação que o engenheiro eletricista alemão visionou o que viria a ser o primeiro console de jogos da história.

Ralph Baer e seu Magnavox Odyssey 100Foto: GiantBomb / GiantBomb

O trajeto de Baer foi longo, mas, em 1966, oito anos depois do início de seu projeto, após uma apresentação demonstrativa para os executivos da Sanders, a ideia original de uma TV teve de ser descontinuada, já que os principais responsáveis pela empresa não viam futuro na invenção do engenheiro, que destoava do conceito originalmente abordado, apontando o resultado como ineficaz e falho.

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Para corroborar com a situação desestimulante, a prestadora de serviços passava por uma má fase, tendo de demitir perto de 60% de seus funcionários, sendo Baer um dos afetados pela decisão, obliterando, desta forma, o seu projeto ganancioso - e até então inexpressivo, do ponto de vista comercial e de êxito em conclusão.

Em 1971, após cinco anos de sua saída da Sanders, Baer acabou encontrando uma empresa que estava disposta a apoiar seu projeto de TV como "canal" de entretenimento eletrônico. 

A Magnavox era uma empresa voltada à fabricação de produtos eletrônicos, e atentou de maneira positiva à ideia de Baer, que acabou conseguindo que seu projeto, apelidado de Brown Box, fosse, enfim, desenvolvido. Foi assim que nasceu o primeiro console de videogame da história: o Odyssey 100.

Ao mesmo tempo em que Baer e seu Odyssey 100 representavam um marco na história dos videogames, o engenheiro Nolan Bushnell dava outro passo importante na massificação dos jogos eletrônicos como conhecemos hoje.

Foi Spacewar o responsável por influenciar Bushnell a produzir sua própria máquina de jogos. Ele adaptou o jogo eletrônico não comercial criado por Russel e geriu o primeiro arcade (as famosas máquinas de fliperama) da história, ao qual apelidou de Computer Space. O até então protótipo foi apresentado para uma empresa chamada Nutting Associates, que trabalhava com máquinas operadas a partir de moedas. No entanto, a parceria acabou não dando certo, fazendo com que Bushnell fundasse sua própria companhia.

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Em 1973, a Atari (famigerada e saudosa) se lançava oficialmente no mercado com um de seus maiores sucessos, o jogo para arcades Pong. O game de esporte visava simular uma partida de ping-pong, e era necessário a participação de duas pessoas para poder ser jogado. Com gráficos simples, Pong (que foi lançado em 1977 no Brasil pela Philco, sob o nome de Telejogo) lembrava a premissa de Tennis for Two, e foi o grande responsável por fazer a empresa de Bushnell se solidificar e ganhar combustível suficiente para apostar e lançar uma versão caseira do game, que acabou não obtendo êxito comercial, pois os consumidores estavam frustrados com a experiência do Odyssey 100. Mas isso não impediu que a companhia conseguisse dar continuidade ao seu êxito inicial e voltasse a reinar durante a década de 1970 com uma série de outros jogos de sucesso.

Posteriormente, Bushnell vendeu a Atari para a Warner Communications. A partir daí, uma série de outras empresas passaram a investir no mercado de arcades e até mesmo caseiro, o que acabou culminando na criação do primeiro console que aceitava cartuchos de jogos eletrônicos (o Odyssey 100 não utilizava cartuchos, os 12 jogos que o acompanhavam estavam embutidos em seus circuitos), não sendo, deste modo, os videogames domésticos restritos a apenas um tipo de software de diversão que vinha acoplado ao mesmo.

  O resto é história (só mais um pouco dela)

Por saturação de uma infinidade de títulos duvidosos e de um grande número de consoles de qualidade questionável que passaram a tomar conta das prateleiras das lojas, a indústria de jogos eletrônicos sofreu um crash (termo utilizado na área da economia quando uma empresa ou o mercado está em declínio financeiro, seja por má administração, erros mercadológicos ou baixas vendas de produtos que culminam na queda de ações de uma companhia.) na década de 1980. Ainda que respingando por todo o mundo, a recessão da indústria foi mais sentida no ocidente, já que no extremo oriente empresas centenárias como a japonesa Nintendo (que era especializada na produção das chamadas cartas Hanafuda) passaram a produzir games de sucesso para arcades, como por exemplo o famoso Donkey Kong.

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Em questões de mercado, a Atari nunca mais se recuperou dos eventos relacionados ao crash da indústria, mesmo com o lançamento de outros consoles, ficando restrita à produção de jogos para os videogames de outras empresas. Por outro lado, companhias como a Nintendo entraram no mercado caseiro, lançando videogames de sucesso mundial como o Nintendo Entertainment System (NES) na década de 1980, e o Super Nintendo (SNES) nos anos 1990. A japonesa Sega também seguiu o mesmo rumo, com consoles extremamente populares no Brasil, como o Master System e o Mega Drive.

Ilustração com alguns dos principais videogames e joysticks da história.Foto: Google imagens / Google imagens

Durantes os anos que sucederam o término da década de 1990, a indústria de jogos eletrônicos se expandiu em ritmo acelerado, contando com a entrada de outras grandes companhias na disputa por uma fatia de um mercado cada vez mais inchado e lucrativo. A Sony lançou o primeiro console que, ao invés de reconhecer cartuchos, reproduzia mídias de CD, o Playstation. Nos anos 2000, foi a vez da Microsoft lançar o Xbox, console que se destacou por apostar fortemente no multiplayer online. 

E assim foi. Dos gráficos em preto e branco e em 2D para o colorido em três dimensões; da inexistência de enredos até a produção de títulos com roteiros metódicos e bem desenvolvidos; de simples estratégias com traços bélicos para nossa sala de estar. A evolução e história dos videogames continua, e segue contribuindo para o surgimento de novas tecnologias, de novas formas de imersão e, claro, de diversão. Muita diversão!

GAME OVER.

Até a próxima!

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